quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Fa(r)do Rubro-Verde


Tal qual uma guitarrada portuguesa - chorosa, ruidosa, contorcida - caminha esta Portuguesa de Desportos por mares nunca d’antes navegados. E não tem sido uma via ladrilhada por azulejos portugueses que emolduraram com brilho intenso o Brasil colonial. Tem sido um caminho lacônico, um trajeto quase de mão única em direção ao ostracismo.


De clube de patrimônio vultoso e de esquadrões nos gramados, a Lusa do Canindé assiste impassível a degeneração de sua história, de suas glórias e conquistas. Envenenada pela apatia e pelo perene desentendimento que reina desde sempre nas alamedas do Canindé, a Lusa silenciosamente perde o bonde da historia, o do marketing esportivo, como se este bonde pudesse ser tomado em um ponto logo mais adiante. Mas não, ele não pode...


Sem esmero, sem alma, sem luz, esta Portuguesa de Desportos parece não entender mais o significado de seu escudo, símbolo adotado pouco tempo depois de sua fundação em 14 de agosto de 1920. Hoje, parece de nada servir a Cruz de Avis. Emblema maior da famosa batalha de Aljubarrota que impediu a anexação de Portugal pela Espanha, em 1385, a Cruz de Avis parece não inspirar mais ninguém no Canindé.


Como se fora um Ninguém Futebol Clube, esta Portuguesa de Desportos não tem levado mais em consideração o anseio de sua gente e faz ouvidos surdos a quem um dia a chamou de clube de coração. Sua camisa vermelha, que em alguns modelos abre simpaticamente espaço ao verde, não é envergada por atletas de primeira linha há tempos. Mesmo tendo servido de janela para o mundo para gente de primeira grandeza no mundo da bola, como Djalma Santos, Julinho Botelho, Ivair, Denner, Rodrigo Fabri, Enéias, Zé Roberto e companhia bela...


A Lusa parece anestesiada. Chama de craques boleiros que nada fizeram pela bola. E permite a balbúrdia indiscriminada em um lugar que deveria ser santo, o vestiário de um clube profissional, da dimensão e importância que ainda tem esta Portuguesa. Definitivamente, esta já não é mais a mesma Lusa.


De time de suor fervoroso em busca de um lugar ao sol a clube que passou a achar normal ocupar o meio de tabela da segunda divisão do futebol nacional, esta Portuguesa de hoje parece uma obra vintage, dessas que nos enchem de nostalgia, nos remete a um canto qualquer de nossa memória, e desgraçadamente nos joga na cara que envelhecemos e o que fizemos, fizemos. E o que não fizemos, não faremos mais. Que tristeza é essa sensação “do que poderíamos ter sido, Portuguesa”!



Por Maurício Capela



EM TEMPOS: A Portuguesa divulgou em seu site um COMUNICADO OFICIAL sobre as confusões ontem no Canindé após a derrota para o Vila Nova. Dois conselheiros, segundo René Simões - que não é mais técnico da Lusa, pediu demissão - denunciou a invasão da dupla ao vestiário rubro-verde e ameaça aos jogadores, a mão armada.

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