quinta-feira, 3 de setembro de 2009

La Comparsita




O que se sabe quando se tem oito anos de idade? Pouca coisa, melhor, quase nada. Ainda pelos olhos de quem nem uma década havia completado, lembro-me de minha primeira copa do mundo. A de 1982. E posso descrevê-la em detalhes. Adorava àquela seleção brasileira. A turma do “voa canarinho, voa”... Como quando moleque costumava jogar no meio de campo, para mim, Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates eram o creme de la creme do mundo da bola. Principalmente, o Falcão e seu refinado toque de bola. Como batia bem na bola o tal do Falcão...

Foi em uma dessas tardes, com meu álbum de figurinhas à mão, quase completo, que assisti o meu primeiro Brasil e Argentina. Devo certamente ter visto outros antes, mas me fixei mesmo nesse confronto de 82. E lembro com tamanha nitidez que meus olhos, influenciados pelo locutor da época, grudaram em Diego Armando Maradona, que eu já tinha no meu álbum. Quantos chicletes não masquei para ter Maradona...

Mas Dieguito me decepcionou. Sua expulsão, até certo ponto ridícula naquele jogo, por chutar o estômago do Batista, foi um balde de água fria. Além de ganharmos dos hermanos por 3 a 1 e os eliminarmos, Maradona, para mim, foi um engodo. Esperava mais de quem já se autoendeusava.

Anos depois, claro, Maradona virou craque e ganhou as manchetes mundo afora. Seus ocasos, suas estripulias e suas jogadas de gênio cintilaram pelos jornais e revistas. Para mim, com o passar dos anos, comecei a achar que o verdadeiro Diego era o do chute. Temperamental, explosivo, arrogante, craque... Mas achei também que ao virar técnico Maradona assumiria outra postura. Pelo jeito, ledo engano.

Nesta semana, o “professor” Maradona andou apimentando ainda mais o maior clássico do mundo da bola. Sim, porque não há rivalidade que se aproxime de um Brasil e Argentina. Instigou seus jogadores, convocou ídolos do passado e chamou os holofotes para si. Claro! Tevez se sentiu à vontade e disse que vai jantar o Brasil. Canigia – nosso carrasco na Copa de 1990 – não titubeou e categoricamente afirmou que a seleção brasileira já perdeu. E Maradona, bem, Maradona, além de reafirmar que é melhor que o Pelé, disse que os argentinos são mais esperançosos que os brasileiros. Têm mais garra.

Dunga preferiu o silêncio e ordenou o mesmo a seus craques. Atitude inteligente, devo dizer. O clima já está bélico demais e qualquer faísca vira incêndio. Mas tem uma coisa, sabe. O sujeito quando vira ídolo não deveria se comportar como um anônimo, porque se hoje tivesse os mesmos oito anos, certamente não mascaria tantos chicletes e nem me importaria se meu álbum de figurinhas ficasse em branco no espaço destinado ao posto de treinador da Argentina. Afinal, técnico por técnico, Maradona ainda está em 82, ao passo que Dunga se aproxima cada vez mais do ano de 94.

Por Maurício Capela

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